segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro é uma iniciativa do Ministério da Educação e da Fundação Itaú Social, com a coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, que visam contribuir para a melhoria da escrita dos estudantes, favorecendo o desenvolvimento de competências de leitura e de escrita.
Os professores  Harmenzs Assis, Ivoneide Barbosa e Marise Guedes realizaram as oficinas indicadas pelo Projeto com os alunos, que culminou com a escolha de um texto de cada categoria. Foram escolhidos os seguintes textos: poema de Auana Jesus dos Santos, com o título Fazenda Conjunto Bom Jesus; memória literária "E a Terra tremeu" da aluna Isaura Assis de Jesus; crônica "E o tiro saiu pela culatra", de Lourena da Silva Ramos, cujo tema é O lugar onde vivo. Parabéns para as alunas e, a sorte foi lançada.


Fazenda Conjunto Bom Jesus
                  (Auana dos Santos)

O lugar onde moro
Tem todo tipo de animal
Gato, cavalo, galinha
Cachorro com amizade de ouro
Às vezes é preciso brigar
Mas é só para a atenção chamar.

Apesar de ser um pouco distante
Não quero viver na cidade
Morando no paraíso
Pisando na terra molhada
Assim gosto de viver
E nunca vou me esquecer

Do contato da água no corpo
Água pura que abastece
A zona urbana e a rural
Do cheiro de mato cortado
Perfumando as narinas
Encanta essa menina

Simples, sonhadora
Sem vergonha de anunciar
Aos quatro cantos do mundo
Que aqui vivo e pretendo ficar
Não há lugar que me convença
Que não é aqui que devo estar

E ao escurecer
O cri-cri dos gafanhotos
Não me deixa incomodada
Os sapos coaxam na baixa
E o manto estrelado
Conto, canto e me encanto

Vou dormir inspirada
E boa noite sei que vou ter
Para acordar bem cedinho
E o galo ouvir cantar
Ver que essa vida é de verdade
E viva a naturalidade



Memória literária - E a terra tremeu
                     (Isaura de Jesus)

Recordo-me da minha mocidade nessa pequenina cidade cujo nome é Ibicaraí. Na escola me ensinaram que este nome é uma palavra de origem nas línguas indígenas brasileiras e significa “Terra Santa”. Lugar pacato e de  gente hospitaleira.
E dessas minhas lembranças... Como eram boas as festas de micareta! Para quem não sabe micareta é um carnaval fora de época e, que acontecia sempre depois da Semana santa. Geralmente em meados ou final do mês de abril, festa esperada e atração festiva da região sul da Bahia.
Um detalhe interessante é que  as cidades circunvizinhas combinavam as datas para não coincidirem e dar oportunidade aos foliões a participarem de todas as micaretas.
Na festa, formavam-se aglomerações de pessoas tranqüilas e não havia violência como hoje. Ao longo do circuito eram montadas barracas de comida, bebida, artesanato, carrinhos de pipoca e tabuleiros de baianas de acarajé. Além de vendedores de espetinho de churrasco. E a animação era feita pelos melhores e mais cobiçados trios elétricos vindos diretamente de Salvador.
No ano de 1976, numa dessas micaretas vieram se apresentar na cidade dois trios ensurdecedores; o trio Phase e o trio e banda Novos Bárbaros. A festa abalou toda a cidade e toda a região. No entanto, não só abalou de animação e de tanta alegria... A terra tremeu mesmo!
Os moradores ficaram muito assustados, vez por outra, aconteciam pequenos tremores durante os períodos da manhã, da tarde e da noite, e até na madrugada. Algumas vezes, os moradores do local estavam dormindo e acordavam amedrontados com a cama tremendo. E assim foram passando os dias e os meses...
O prefeito até chamou um cientista para estudar o fenômeno e a gente nem sequer ficou sabendo  o resultado desse estudo.
Contudo, de acordo com os moradores mais velhos da cidade, aquela festa de micareta aconteceu durante a semana Santa e, por isso as pessoas da cidade cometeram uma heresia, um pecado mortal para com Deus. O castigo foi realizado através dos tremores de terra na localidade do município.
Ficamos todos com medo de morrer, pois no Brasil não há terremoto e todos nós nos preocupávamos com os desígnios divinos.
E como a arte é fonte de expressão muito cultivada pelo povo baiano, tudo é motivo de festa... inspirada no fenômeno ocorrido na cidade foi feita a música “E a terra tremeu”, cantada por Simone Moreno. Música que fez muito sucesso em Salvador e em todo interior baiano. Lembro-me que a letra da música dizia assim: “E a terra tremeu! Tremeu... Tremeu! E o céu mudou de cor! E o Bloco do Reggae chegou! Curtindo Jamaica em Salvador!”
Foi o maior sucesso! E quem não conhecia a história não sabia identificar a verdadeira motivação da inspiração da música. Pelo sim e pelo não, nunca mais nenhum prefeito aceitou realizar a micareta durante a semana santa.

E assim... A terra parou de tremer.

Texto escrito com base no depoimento do senhor Francisco Mangueira, 60 anos.




Crônica - E o tiro saiu pela culatra
                  (Lourena Ramos)    

Nos tempos áureos do cacau, o sul da Bahia tinha como tradição coronéis, fazendeiros com poderes políticos como se ver nas novelas de época na televisão. Então veio a doença Vassoura-de-bruxa e acabou com essa fama, a monocultura devastou a região. Essas pessoas empobreceram, umas definharam, outras morreram desgostosas e, boa parte delas hoje depende de aposentadoria comum. Tiveram forçosamente que mudar de padrão de vida.
Sou dada a conversar com os mais velhos e ouvir suas experiências. Tenho um vizinho que lamenta ter investido tanto nos filhos, mantendo-os na capital para serem doutores e alguns anos mais tarde descobriu que eles não estudaram.
- Viviam curtindo, fazendo farra, jogando meu dinheiro fora – dizia ele, lamentando-se que já fora proprietário de fazendas cacaueiras e dono de muito gado.
- lembro-me do que diziam os mais velhos – lamentava ele. “Pai rico, filhos nobres e netos pobres”. E eu estou passando por isso, deveria ter conservado os meus filhos trabalhando pesado na sua propriedade para poder valorizar o que tinha.
E viu uma lágrima arrependida marcar-lhe a pele enrugada pelo tempo.
Então ele disse:
- O senhor fez o melhor para os seus filhos, eles é que não souberam aproveitar, mas a vida continua para os ensinar.

                                                                                                           Por Ivoneide Barbosa - professora
    

domingo, 14 de setembro de 2014